28 de julho de 2011

Crônica de Saudade e Perda

A Primeira coisa que fiz quando cheguei em casa depois que ela partiu,
foi ir meio sem pensar arrumar a bagunça do quarto
em que estivemos nos último dias.

Sabe, eu não costumo ligar para bagunça,
então percebi que não era por isso que arrumava o quarto.
Fazia meio por que tinha que me prender a alguma coisa,
qualquer uma,
arrumar foi útil, me dava de quebra alguma
ordem lógica a qual me ater.
Havia algum vazio interno que precisava ser preenchido,
dessa vez, com qualquer idiotice concreta.

Não, ela não morreu.
Só viajou, e eu a verei em breve.
Mas o sentimento que eu escondia com a limpeza do quarto,
era a perda.
Como se sentir na perda de alguém que se ama?
Bastou perguntar.


E o vazio me encheu por completo.
Sobrou a máquina irracional arrumadora de quartos.
E a verdade é que na perda,
não se sente, não se pensa, não se fala.
Talvez a dor seja tão grande que o vazio seja mesmo a melhor opção.

É como uma poesia rasgada, a palavra não dita, o brinquedo esquecido,
o veterano do asilo, o último aplauso do último show.

É o vazio que resta no lugar daquilo que nos preenchia e agora se foi.

4 de julho de 2011

Desentalo

A incapacidade de definir como estava na verdade se mostrou pura incapacidade de admitir uma dor profunda demais para ser socialmente agradável.
Então apresento ao mundo a parte de mim que venho sem perceber tentando esconder.



Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.

Minto pra mim todos os dias para levantar da cama com algum resto de estima
Pois o que restou de mim são ecos de um eu mais intenso e mais interessante
Que pensava por si só e que vivia a vida pura,  destilada no mais puro veneno ou perfume
(tanto fazia conquanto que fosse verdadeira)
Que infelizmente agora é para mim apenas lembrança e contra-senso.

Sinto que hoje sou apenas um resto do “vivi” sem ser capaz de dizer “vivo” ou “viverei”

Muito novo aprendi a viver e voar e sentir e ser sem limites ou pontuação
Mais novo ainda não consegui deixar de morrer.

Mas hoje, sinto dizer:
Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.

As vezes desejo que não tivesse sabido da vida o que soube tão cedo.
As vezes desejo que tivesse vivido e sofrido antes de saber o que isso tudo queria dizer.

Porque agora, sei que nada sei, e nada saberei, e perco o interesse por tudo que possa saber.
Já que pra mim, no fim, poderei no máximo saber muito, sem conseguir de fato viver.
A vida se mostrou um mistério profundo demais,
Sem a resposta do qual não serei capaz de existir.

Portanto,
Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.

A falta de sabor que gozo, e transmuto de sabor para o mundo todos os dias
já cansou. Não me basto na vontade de ser eu mesmo e de satisfazer o que quer que eu seja.
Não sei quem sou, e não caminho na direção de saber.
A falta de mim, causou uma falta de tudo, que suga tudo que tento ser e todos que tento aprazer de tal maneira que jamais serei capaz de ver cores ou prazer, já que sem me definir não saberei amar a mim, e assim não amarei ninguém, e enfiando o amor nesse discurso solto e sem sentido percebo que já me perdi novamente nos labirintos de sentir do meu próprio coração.
Apesar de saber que um dia senti o que deveria ser de verdade.
A época em que apenas senti e vivi e ponto.

Portanto,
Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.
Pena você não ter me conhecido como sou (ou como fui).