13 de fevereiro de 2008

Dos Esquecidos.

A vergonha estranha de viver veio de repente, num dia normal de tv.
Numa vontade de não sei o que e um choro entalado no peito.

Quando no meio do meu sofá na metade do dia, olho para tela
e nem sei se vejo gente.
É o deposito, de restos de gente e de lixo.
E o que sobra do almoço todos os dias, enquanto converso e tomo coca cola,
virou comida.
E as batatas podres que achei feias,
viraram sopa.
As caixas do meu computador novo,
viraram casa.
E minha dignidade,
virou lixo.

Tenho vergonha de tudo que escrevo.
Mais ainda do que faço.
Acordo sempre na mesma rotina na mesma cama macia, no mesmo fazer nada,
no mesmo criticar demais.
E olhar nos olhos do homem-bicho que come e mora o mesmo lixo, me mataria no primeiro segundo, seus olhos de trabalho meus olhos de pensar,
meu coração de explodir seu coração de sonhar.
Vergonha das minhas conversas políticas em mesas de bar, em roupas quentes.
E todo o ridículo das esmolas que dou.

Uma raiva esquisita de tudo.
E o posterior topor do paradoxo de viver capitalista.
Do ter tanto com tanta vergonha, e desvontade de ter por causar a falta do ter,
mas falta vontade no desistir de tudo, por tanto tudo pra ter, e tanto mais para querer.
E no fim,meus irmãos ainda têm fome enquanto escrevo, minhas palavras enfadonhamente hipócritas não os sustem, de nada mais que vergonha de mim.


[A foto bem de verdade, por que de verdade é essa gente.]

12 de fevereiro de 2008

Mesmo que só às vezes.

O meu Deus.
Tenho não sido eu há tanto tempo.
Tenho me prendido tanto, a tanto do que não importa.
Tenho negligenciado ajuda a tantos, e ao contrário os tenho machucado.
Tenho perdido a ingenuidade simples da natureza.
Tenho perdido o ser, só por ser.
Tenho criado descrença, em vez de fé.
Tenho feito crer que não se pode mudar o mundo.
Tenho me esquecido de mim, dentro de mim. O melhor de mim.
Tenho esquecido junto comigo, o invisível do mundo, o indispensável.
Tenho errado tendo consciência dos erros.

O meu Deus.
Mas eu ainda estou aqui.
E às vezes posso ser/sentir o vento.
E às vezes ainda posso usar as palavras como instrumento de harmonia.
E às vezes ainda consigo fazer chorar de emoção.
E às vezes ainda consigo diminuir dores.
E às vezes ainda consigo renovar fés.
E às vezes ainda consigo ensinar.
E às vezes ainda aprendo com a natureza.
E às vezes ainda consigo me sentir um com o mundo.
E às vezes ainda sou amor.
Às vezes... Só às vezes.

Mas mesmo que só às vezes.
Eu ainda sou.
E mesmo que só às vezes, vou tentar mudar o mundo.
E mesmo que só às vezes, vou amar de verdade,
acreditar sem duvidar, ajudar sem perguntar,
viver com amor, ser feliz sem porquê,
dar a mão, oferecer um abraço,
encorajar, fazer mudar, fazer sorrir,
rir, ou gargalhar.
Mesmo que só às vezes, vou acreditar que posso.

[A pior "poesia" dos ultimos tempos.]