31 de março de 2008

Paixão trivial número 27.

Noite.
Entre o amargo gosto de álcool em sua boca, e uma pequena dor no pé,
dançava,
dançava porque esquecia de si.
Olhava em volta como se visse o mundo.
E via uma vaga lembrança da vida.
Achou o que procurava, disse 2 frases
(mais pronunciadas que verdadeiramente ditas),
e esqueceu-se de seu coração.

Largou o copo.
Junto com o gosto novo , de saliva sem gosto,
dois corpos se entrelaçavam, numa voracidade
que sob algum ponto de vista, talvez fosse humana.
Entre muros úmidos, em um canto de casa
seu corpo se esquecia da alma.

Fechou a calça.
Se sentou. E enquanto olhava para o céu,
procurava a si mesmo.
A viu sair.
E a momentânea solidão, lhe trouxe de volta seus vazios,
e a lembrança de inúmeros momentos como este,
e mulheres como aquela, que ele sentia raiva por não amar.
Na triste certeza da efemeridade de tudo,
concluiu que passou a deixar em mulheres suas vagas lembranças do homem que queria ser.

Foi para casa.
E ria no caminho,
quando pensava que aquela noite, e aquela mulher não sabiam o que haviam feito nele.

20 de março de 2008

Poço raso no verão.

Encontro-me estranhamente seco.
Por que fogem de mim, as antes tão minhas, palavras?
Em algum alguém dentro de mim, agora descansa minha inspiração.
Perdi minha poesia.
Por que meu cotidiano perdeu a sua.
E a beleza do mundo me parece vetada.
A minha vida limitada sem ela.

Me esqueci do que realmente importa.
E o que importa esqueceu de mim.

Talvez um dia eu volte à turbulência onde as palavras dormem,
e as resgate para que morem em minhas poesias, como fazia antes de morrer.
Mas agora estou morto, não há vida sem poesia.
E esse preto e branco parece sem fim.
Tão sem fim, quanto esse péssimo poema, que eu não queria ter de escrever.