28 de outubro de 2010

Exagerado (contra) senso

De tão complexa a realidade se derrete lentamente
nos assobios do vento em nosso pensamento
segue sem destino pra algum lugar definido
de mãos dadas com aquilo que acreditávamos antes mas agora nos é absurdo.

Se infiltrando venenosamente na busca da verdade
vamos escorregando pra fora do mundo
e serenamente transformados em poeira
caímos no chão para repousar no nada que encontramos.

Mas logo vem o pisão, e logo após outro
rua cheia, gente rápida andando na companhia de seu próprio vazio interior
te jogam estilhaços da realidade inventada
que gruda nessa matéria qualquer que suga tudo em seu perceber.

Abrimos os olhos, e estamos novamente cegos
pelo menos andamos juntos agora, soçobrando sobre um pensamento qualquer
que já não sabemos mais exatamente qual era mesmo?
Brindamos novamente o vinho viscoso e grudento que prende nossos pés ao chão
saboroso no entanto não perceber.

Flutuamos vagando de lado em lado, de verdade em verdade,
nos expandindo e contraindo empurrados por uma fala qualquer
até que ela nos esprema novamente contra a parede da plenitude da percepção
e só nos sobre escorrer pra fora de tudo por falta de força.
Ou por falta de senso.

Onde é que estávamos mesmo?

Um comentário:

Vinícius disse...

"Era como se ele, apenas ele, excedendo a si mesmo, num movimento brusco saltasse para fora da engrenagem e, desgovernado, pudesse ver de longe o mundo pacífico e feliz de que não sabia participar." Fernando Sabino