28 de outubro de 2010

Exagerado (contra) senso

De tão complexa a realidade se derrete lentamente
nos assobios do vento em nosso pensamento
segue sem destino pra algum lugar definido
de mãos dadas com aquilo que acreditávamos antes mas agora nos é absurdo.

Se infiltrando venenosamente na busca da verdade
vamos escorregando pra fora do mundo
e serenamente transformados em poeira
caímos no chão para repousar no nada que encontramos.

Mas logo vem o pisão, e logo após outro
rua cheia, gente rápida andando na companhia de seu próprio vazio interior
te jogam estilhaços da realidade inventada
que gruda nessa matéria qualquer que suga tudo em seu perceber.

Abrimos os olhos, e estamos novamente cegos
pelo menos andamos juntos agora, soçobrando sobre um pensamento qualquer
que já não sabemos mais exatamente qual era mesmo?
Brindamos novamente o vinho viscoso e grudento que prende nossos pés ao chão
saboroso no entanto não perceber.

Flutuamos vagando de lado em lado, de verdade em verdade,
nos expandindo e contraindo empurrados por uma fala qualquer
até que ela nos esprema novamente contra a parede da plenitude da percepção
e só nos sobre escorrer pra fora de tudo por falta de força.
Ou por falta de senso.

Onde é que estávamos mesmo?

19 de outubro de 2010

Hoje eu não tenho compromisso,
não quero poesia, prosa, texto ou canção.
Me utilizo desse papel como um amigo silencioso
que me consola, sem me questionar.

Já falei sobre tudo, sobre o amor das pedras pelo ar,
da plenitude, da finitude,
dos sistemas, dos governos,
das mazelas humanas,
da verdade, da pureza e
do inteligível.
Não há nada sobre o que eu não tenha de pronto
formulado uma maldita opinião.

Mexi, remexi, montei e desmontei as peças do que
dava sentido ao meu ser.
Mas acho que perdi um pedaço.

Já vivi todos os meios, todas as classes e ambientes.
Boêmios, sujos, limpos,
requintados, intelectuais,espiritualistas, fúteis, poéticos, depressivos, revoltados e alegres.
Mas acho que não sei a qual pertenço.

Me falta um sentido, que me guie para
um sentir, pensar, agir e falar coerentes.
Toda essa dicotomia me enlouquece,
nenhuma das verdades de vocês me apetece.
E eu cansei!

De suas verdades contraditórias
e de vocês.
Não tentem me convencer, me ajudar,
encaminhar ou me enaltecer.
O que eu quero,
ninguém pode me dar.
Sejam eles vivos, mortos ou eternos.

A vida se mostrou nua, crua, cruel e devoradora.
Eu desisto!
Não posso aguentar.
Me dêem a benção da ignorância
ou uma verdade que me junte
as partes de mim que foram solitárias
e corajosas se dividindo entre essas diversas
mentiras acreditadas que nós vivemos.

Só posso viver tranquilo onde não exista qualquer sociedade desarranjada.
Mas não posso viver em paz enquanto exista qualquer sociedade desarranjada.

Não tenho lugar, não tenho o pensar,
não tenho o sentir, não tenho dinheiro,
não tenho paz, não tenho função, não tenho alegria, não tenho amor.

E agora, como podem ver,
não tenho poesia.

Mas deixem-me escrever, pois aqui pelo menos
tenho a ilusão de ser livre.

Procurei em mim a sabedoria e encontrei espaço

A vida me seduziu com o pensar,
me fez acreditar no sentir,
me fez procurar e me revirar tentando achar
o sentido que ela me exigia.

Mas no fim, enlouqueci
me perdi em mim.
Nesse abismo solitário e sedento de entender
que eu me tornei.