3 de julho de 2009

Apaixonada Dualidade

Essa dualidade de existir humano me apaixona.
Ser sentir e ser prazer.
Ser amor, nobre e poético.
E bêbado, sexual e irascível.

Esta vontade que contrasta o sentir,
que nenhum poeta, profeta ou filósofo resolveu.
Este caminho de várias saídas.
Viver assim efêmero e assim eterno.
Ser este sem sentido me apaixona.

Esta qualquer contradição em que se faz a vida é maravilhosa.
Choro e rio com ela.
Sofro e sorrio.
Sou e nem sei mais, ao mesmo tempo.

Quero às vezes a completude da paz,
mas se assim fosse
seria humano?

Prefiro às vezes ser apaixonado,
ser só assim, ridículo, humano,
e poeticamente belo, como somos todos nós.

Um comentário:

Sinestesia disse...

O “burguês”, como um estado sempre presente da vida humana, não é outra coisa senão a tentativa de uma transigência, a tentativa de um equilibrado meio-termo entre os inumeráveis extremos e pares opostos da conduta humana. Tomemos, por exemplo, qualquer dessas dualidades, como o santo e o libertino, e nossa comparação se esclarecerá em seguida. O homem tem a possibilidade de entregar-se por completo ao espiritual, à tentativa de aproximar-se de Deus, ao ideal de santidade. Também tem, por outro lado, a possibilidade de entregar-se inteiramente à vida dos instintos, aos anseios da carne, e dirigir seus esforços no sentido de satisfazer os prazeres momentâneos. Um dos caminhos conduz à santidade, ao martírio do espírito, à entrega a Deus. O outro caminho conduz à libertinagem, ao martírio da carne, à entrega à corrupção. O burguês tentará caminhar entre ambos, no meio-termo. Nunca se entregará nem se abandonará à embriaguez ou ao ascetismo; nunca será mártir nem consentirá em sua destruição, mas, ao contrário, seu ideal não é a entrega, mas a conservação de seu eu, seu esforço não significa nem santidade nem libertinagem, o absoluto lhe é insuportável, quer certamente servir a Deus, mas também entregar-se ao êxtase, quer ser virtuoso, mas quer igualmente passar bem e viver comodamente sobre a terra. Em resumo, tenta plantar-se em meio aos dois extremos, numa zona temperada e vantajosa, sem grandes tempestades ou borrascas, e o consegue ainda que à custa daquela intensidade de vida e de sentimentos que uma existência extremada e sem reservas permite.