4 de julho de 2011

Desentalo

A incapacidade de definir como estava na verdade se mostrou pura incapacidade de admitir uma dor profunda demais para ser socialmente agradável.
Então apresento ao mundo a parte de mim que venho sem perceber tentando esconder.



Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.

Minto pra mim todos os dias para levantar da cama com algum resto de estima
Pois o que restou de mim são ecos de um eu mais intenso e mais interessante
Que pensava por si só e que vivia a vida pura,  destilada no mais puro veneno ou perfume
(tanto fazia conquanto que fosse verdadeira)
Que infelizmente agora é para mim apenas lembrança e contra-senso.

Sinto que hoje sou apenas um resto do “vivi” sem ser capaz de dizer “vivo” ou “viverei”

Muito novo aprendi a viver e voar e sentir e ser sem limites ou pontuação
Mais novo ainda não consegui deixar de morrer.

Mas hoje, sinto dizer:
Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.

As vezes desejo que não tivesse sabido da vida o que soube tão cedo.
As vezes desejo que tivesse vivido e sofrido antes de saber o que isso tudo queria dizer.

Porque agora, sei que nada sei, e nada saberei, e perco o interesse por tudo que possa saber.
Já que pra mim, no fim, poderei no máximo saber muito, sem conseguir de fato viver.
A vida se mostrou um mistério profundo demais,
Sem a resposta do qual não serei capaz de existir.

Portanto,
Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.

A falta de sabor que gozo, e transmuto de sabor para o mundo todos os dias
já cansou. Não me basto na vontade de ser eu mesmo e de satisfazer o que quer que eu seja.
Não sei quem sou, e não caminho na direção de saber.
A falta de mim, causou uma falta de tudo, que suga tudo que tento ser e todos que tento aprazer de tal maneira que jamais serei capaz de ver cores ou prazer, já que sem me definir não saberei amar a mim, e assim não amarei ninguém, e enfiando o amor nesse discurso solto e sem sentido percebo que já me perdi novamente nos labirintos de sentir do meu próprio coração.
Apesar de saber que um dia senti o que deveria ser de verdade.
A época em que apenas senti e vivi e ponto.

Portanto,
Muito prazer sou o reflexo tosco do homem quase bom que fui um dia.
Pena você não ter me conhecido como sou (ou como fui).

2 comentários:

TLT disse...

Dizem que o reino de Desespero é composto por varios espelhos, que talvez se olharmos muito fundo em nosso a veremos...

Empatia..Gostei muito do texto...

Abraço.
Até

♥♥NaNnA BeZeRrA♥♥ disse...

Vinicius, ou mesmo Vivi,
texto denso e de uma intensidade que me emocionou muito. Me vi, ali estampada nas facetas de cada ponto. Me vi, interligada no emaranhado de sentimentos complexos, que voce, tao bem passou pra mim. Sem nem me olhar nos olhos...
Parabens!
Poucos conseguem verbalizar sentimentos tao intensos...
Te cuida!
E quando tiver um tempo, entre uma emocao e outra, venha me ler e me contar o que viu de bom!